por Roosevelt Nunes
Comentando a última bem-aventurança, “bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”, Dietrich Bonhoeffer afirma “que Jesus declara bem-aventurados os seus discípulos também quando não sofrem diretamente por amor de seu nome, mas simplesmente por uma causa justa”. Bonhoeffer erra porque tenta misturar, na interpretação dessa passagem, fé cristã e opiniões políticas e sociais. As bem-aventuranças são o retrato do caráter do cristão, portanto, Jesus não se refere à perseguição de natureza política, mas aquela devido ao assemelhar-se com Ele. Como bem salientou Martyn Lloyd-Jones, tal mistura torna possível que a pura fé cristã seja considerada, por aqueles que não são crentes, como parte integrante de certas opiniões políticas e sociais. Na Inglaterra da época de Lloyd-Jones, o risco era ligar cristianismo e anticomunismo. E o contrário (nos dois sentidos) também pode acontecer, como ocorre hoje no Brasil: pastores e teólogos tentam associar a mensagem cristã ao socialismo, cujo principal representante dessa linha é o Movimento Evangélico Progressista (MEP). Segundo um de seus fundadores, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti, o MEP foi criado em 1990 defendendo a compatibilidade entre a fé cristã reformada, protestante, evangélica, com a democracia e o socialismo.
Essa fusão entre socialismo e cristianismo, duas cosmovisões antagônicas, gera um bezerro de ouro. A dita esquerda protestante quebra as tábuas da lei, despreza a vontade de Deus para a política, abraçando o ideal humano fundamentado no erro, pois para os marxistas a resposta do homem às necessidades materiais determina a compreensão da realidade. A ideologia marxista é claramente anticristã: o Estado é Deus e a religião é o ópio do povo. Aqueles que seguirem o caminho da idolatria, preferindo voltar para o tempo da ignorância, trocando a verdade pela mentira, “inculcando-se por sábios, tornaram-se insensatos” (Rm 1,22). Vejamos se não é assim.
Nas eleições presidenciais de 2002, o MEP conclamava abertamente o apoio dos evangélicos à candidatura de Lula. Nessas mesmas eleições foi feito inclusive um “Manifesto Evangélico”, assinado por vários pastores de diferentes denominações, que dentre outras coisas declarava o seguinte: “apoiamos Lula para Presidente porque reconhecemos que várias propostas do seu Programa de Governo se identificam com a vocação profética da Igreja de Jesus Cristo". Após as eleições, Robinson Cavalcanti, exultante com a vitória lulista, afirmava que havia no Brasil “um renovado clima de esperança com realismo” devido a eleição de “um dirigente oriundo da classe operária e de um periférico agreste nordestino, integrante de um partido de esquerda, orgânico e que incorporou amplos segmentos da população antes excluídos da vida partidária e do exercício da cidadania”. Quatro anos depois, Robinson agradece a Deus por não ter podido votar no segundo turno das eleições presidenciais, tamanha havia sido a sua decepção. Com os campeões da bravata no poder, liderados por Lula, houve um recrudescimento da corrupção, do fisiologismo, do clientelismo e do nepotismo na política nacional.
A decepção com Lula e PT causou uma desorientação na esquerda, que na busca por um ícone acabou elegendo Hugo Chávez. Em julho de 2004, 69 personalidades brasileiras, entre elas o pastor Ariovaldo Ramos, assinaram uma carta de solidariedade a Hugo Chávez, um manifesto de apoio à sua gestão e a favor de sua permanência no cargo até o final do mandato. Na época, a oposição estava colhendo assinaturas para convocar um plebiscito para tirar o presidente da Venezuela. Ariovaldo Ramos justificou assim a assinatura da carta: “Onde tiver um cara andando nos caminhos de Jesus, mesmo que não confesse Jesus como eu confesso, o que eu puder fazer para ajudá-lo, eu vou fazer". O pastor ficou impressionado com os programas assistencialistas de Chávez e desconsiderou a possibilidade de tática populista. Errou na análise, como os esquerdistas cristãos sempre farão (profecia baseada na lógica bíblica): em menos de seis anos (1998 a 2004), Chávez venceu seis plebiscitos e duas eleições, reescreveu a Constituição, interveio no Judiciário, prolongou o próprio mandato, caminhando a passos largos para a atual ditadura bolivariana. O apoio de Chávez ao golpe impetrado pelo presidente hondurenho Manuel Zelaya, que, como ele, tentava mudar a constituição para solapar a democracia, foi a prova mais recente do caráter de sua política.
No seu livro “O Chamado”, Os Guiness, considerado um dos profetas cristãos da atualidade, afirma que um dos perigos da fé na vida pública é a politização. Ele reconhece que “os cristãos têm todo o direito de estar na arena pública e todo o direito de tomar as posições que têm tomado, mas precisam manter uma tensão entre a aliança com Cristo e a identificação com qualquer partido, movimento, plataforma ou agenda, pois na medida em que o ativismo cristão na vida pública torna-se uma politização da igreja (uma identificação com determinados movimentos de direita ou de esquerda sem a tensão crítica) nesse ponto o ativismo trairá a Cristo e colocará lenha no próprio fogo, fazendo com que a igreja seja rejeitada”. A linha seguida pela dita esquerda protestante brasileira é um exemplo claro desse fenômeno da politização da fé. No silêncio dos progressistas cristãos diante dos vários escândalos de corrupção durante a presidência de Lula, Cristo estava sendo traído. Tendo como base o resultado das eleições de 2002, especialmente a bancada evangélica formada, o sociólogo cristão progressista Paul Freston considera que o trabalho do MEP foi um dos responsáveis por transformar a face pública dos evangélicos. Quase sete anos depois, pode-se dizer que o MEP conseguiu sepultar o suposto triunfo outrora realizado: há um grande grau de desconfiança quanto à participação de evangélicos na política. Não se tem outro resultado quando se opta pelo caminho da politização da fé: o fracasso dos intentos e a traição a Cristo. E como idólatras (não abandonaram a tese da compatibilidade), agem feito loucos: fecham os olhos para a realidade (assim como Aloizio Mercadante, cedem a sua combatividade a Lula, fazendo-se “heróis da rendição”) e se voltam contra moinhos de vento (leia-se neoliberalismo).
Comentando a última bem-aventurança, “bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”, Dietrich Bonhoeffer afirma “que Jesus declara bem-aventurados os seus discípulos também quando não sofrem diretamente por amor de seu nome, mas simplesmente por uma causa justa”. Bonhoeffer erra porque tenta misturar, na interpretação dessa passagem, fé cristã e opiniões políticas e sociais. As bem-aventuranças são o retrato do caráter do cristão, portanto, Jesus não se refere à perseguição de natureza política, mas aquela devido ao assemelhar-se com Ele. Como bem salientou Martyn Lloyd-Jones, tal mistura torna possível que a pura fé cristã seja considerada, por aqueles que não são crentes, como parte integrante de certas opiniões políticas e sociais. Na Inglaterra da época de Lloyd-Jones, o risco era ligar cristianismo e anticomunismo. E o contrário (nos dois sentidos) também pode acontecer, como ocorre hoje no Brasil: pastores e teólogos tentam associar a mensagem cristã ao socialismo, cujo principal representante dessa linha é o Movimento Evangélico Progressista (MEP). Segundo um de seus fundadores, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti, o MEP foi criado em 1990 defendendo a compatibilidade entre a fé cristã reformada, protestante, evangélica, com a democracia e o socialismo.
Essa fusão entre socialismo e cristianismo, duas cosmovisões antagônicas, gera um bezerro de ouro. A dita esquerda protestante quebra as tábuas da lei, despreza a vontade de Deus para a política, abraçando o ideal humano fundamentado no erro, pois para os marxistas a resposta do homem às necessidades materiais determina a compreensão da realidade. A ideologia marxista é claramente anticristã: o Estado é Deus e a religião é o ópio do povo. Aqueles que seguirem o caminho da idolatria, preferindo voltar para o tempo da ignorância, trocando a verdade pela mentira, “inculcando-se por sábios, tornaram-se insensatos” (Rm 1,22). Vejamos se não é assim.
Nas eleições presidenciais de 2002, o MEP conclamava abertamente o apoio dos evangélicos à candidatura de Lula. Nessas mesmas eleições foi feito inclusive um “Manifesto Evangélico”, assinado por vários pastores de diferentes denominações, que dentre outras coisas declarava o seguinte: “apoiamos Lula para Presidente porque reconhecemos que várias propostas do seu Programa de Governo se identificam com a vocação profética da Igreja de Jesus Cristo". Após as eleições, Robinson Cavalcanti, exultante com a vitória lulista, afirmava que havia no Brasil “um renovado clima de esperança com realismo” devido a eleição de “um dirigente oriundo da classe operária e de um periférico agreste nordestino, integrante de um partido de esquerda, orgânico e que incorporou amplos segmentos da população antes excluídos da vida partidária e do exercício da cidadania”. Quatro anos depois, Robinson agradece a Deus por não ter podido votar no segundo turno das eleições presidenciais, tamanha havia sido a sua decepção. Com os campeões da bravata no poder, liderados por Lula, houve um recrudescimento da corrupção, do fisiologismo, do clientelismo e do nepotismo na política nacional.
A decepção com Lula e PT causou uma desorientação na esquerda, que na busca por um ícone acabou elegendo Hugo Chávez. Em julho de 2004, 69 personalidades brasileiras, entre elas o pastor Ariovaldo Ramos, assinaram uma carta de solidariedade a Hugo Chávez, um manifesto de apoio à sua gestão e a favor de sua permanência no cargo até o final do mandato. Na época, a oposição estava colhendo assinaturas para convocar um plebiscito para tirar o presidente da Venezuela. Ariovaldo Ramos justificou assim a assinatura da carta: “Onde tiver um cara andando nos caminhos de Jesus, mesmo que não confesse Jesus como eu confesso, o que eu puder fazer para ajudá-lo, eu vou fazer". O pastor ficou impressionado com os programas assistencialistas de Chávez e desconsiderou a possibilidade de tática populista. Errou na análise, como os esquerdistas cristãos sempre farão (profecia baseada na lógica bíblica): em menos de seis anos (1998 a 2004), Chávez venceu seis plebiscitos e duas eleições, reescreveu a Constituição, interveio no Judiciário, prolongou o próprio mandato, caminhando a passos largos para a atual ditadura bolivariana. O apoio de Chávez ao golpe impetrado pelo presidente hondurenho Manuel Zelaya, que, como ele, tentava mudar a constituição para solapar a democracia, foi a prova mais recente do caráter de sua política.
No seu livro “O Chamado”, Os Guiness, considerado um dos profetas cristãos da atualidade, afirma que um dos perigos da fé na vida pública é a politização. Ele reconhece que “os cristãos têm todo o direito de estar na arena pública e todo o direito de tomar as posições que têm tomado, mas precisam manter uma tensão entre a aliança com Cristo e a identificação com qualquer partido, movimento, plataforma ou agenda, pois na medida em que o ativismo cristão na vida pública torna-se uma politização da igreja (uma identificação com determinados movimentos de direita ou de esquerda sem a tensão crítica) nesse ponto o ativismo trairá a Cristo e colocará lenha no próprio fogo, fazendo com que a igreja seja rejeitada”. A linha seguida pela dita esquerda protestante brasileira é um exemplo claro desse fenômeno da politização da fé. No silêncio dos progressistas cristãos diante dos vários escândalos de corrupção durante a presidência de Lula, Cristo estava sendo traído. Tendo como base o resultado das eleições de 2002, especialmente a bancada evangélica formada, o sociólogo cristão progressista Paul Freston considera que o trabalho do MEP foi um dos responsáveis por transformar a face pública dos evangélicos. Quase sete anos depois, pode-se dizer que o MEP conseguiu sepultar o suposto triunfo outrora realizado: há um grande grau de desconfiança quanto à participação de evangélicos na política. Não se tem outro resultado quando se opta pelo caminho da politização da fé: o fracasso dos intentos e a traição a Cristo. E como idólatras (não abandonaram a tese da compatibilidade), agem feito loucos: fecham os olhos para a realidade (assim como Aloizio Mercadante, cedem a sua combatividade a Lula, fazendo-se “heróis da rendição”) e se voltam contra moinhos de vento (leia-se neoliberalismo).
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