Despertar a consciência crítica e profética dos jovens cristãos, para que vivam consistentemente a partir da cosmovisão bíblica.

[Fale Conosco]

Um homem com convicção se torna a maioria

terça-feira, 1 de junho de 2010 comentários
 Editar Post

Por Roosevelt Nunes

“Um homem com convicção se torna a maioria”. Essas palavras referem-se a William Wilberforce, parlamentar britânico do século XVIII, proferidas por Edmund Burke, um contemporâneo na Casa dos Comuns. Wilberforce batalhou durante 46 anos na Casa dos Comuns pelo fim do tráfico de escravos e da escravidão. A causa da abolição, iniciada em 1787, foi derrotada 11 vezes antes da sua aprovação, em 1807, e só houve vitória decisiva na luta para abolir a escravidão 3 dias antes da sua morte, em 1833. E durante esse período de tempo sofreu ameaças constantes para que se demovesse do intento, pois a escravidão era fundamental para a economia britânica, e padeceu de dores físicas causadas por várias doenças que o acometeram. Não surpreenderia se tivesse abandonado a causa no meio do caminho, assumindo outras mais populares e menos árduas. Mas a fonte da sua perseverança dava-lhe a força necessária para superar todos os obstáculos e manter-se firme nessa batalha.

Embora tenha recebido influência evangélica na infância, Wilberforce perdeu o interesse pela religião bíblica na juventude, preferindo circular entre a elite social, gastando seu tempo nas mesas de pôquer. Aos 21 anos, vivendo como um libertino mimado, às expensas da riqueza de seus pais, candidatou-se a uma vaga ao Parlamento e venceu, iniciando uma trajetória de 46 anos na política. A grande mudança na história de sua vida começou a partir do reencontro com um antigo professor e amigo do ginásio, Isaac Milner, que se tornou um cristão convicto. No inverno de 1874, Wilberforce convidou-o para que viajasse com ele num feriado prolongado. Nessa viagem conversaram por horas sobre a fé cristã. Outros encontros com Milner aconteceram e uma transformação ia sendo operada no coração de William: de um consentimento intelectual com a perspectiva bíblica sobre o homem, Deus e Cristo, para uma profunda convicção, sua conversão para a fé evangélica.

Essa convicção levou a uma profunda reflexão sobre a sua vida, sentindo-se envergonhado por quem tinha sido até então, levando a mudar o foco de sua política, mas mesmo assim continuou grandemente atormentado pelo significado do cristianismo para a sua vida pública. A solução para a sua angústia veio quando visitou o pastor John Newton, que outrora tinha sido traficante de escravos. Newton incentivou-o a não deixar a vida pública: “Espera-se e acredita-se que o Senhor o levantou para o bem da Sua igreja e da nação”. E a partir de então, do seu contato com Newton, que lhe relatou os horrores dos navios negreiros, abolir o tráfico de escravos tornou-se para Wilberforce “o grande objetivo da minha existência parlamentar... Se agradou a Deus me conhecer até aqui, que eu seja o instrumento para deter tamanho aumento da perversidade e crueldade, como nunca antes havia ultrajado um país cristão”.

A Bíblia tornou-se o seu livro mais amado e moldou a sua visão de mundo. Na opinião dele, a maioria dos cristãos na Inglaterra avaliava a culpabilidade de uma ação “não pela proporção na qual, de acordo com as Escrituras, eram ofensivas a Deus, mas quanto elas eram prejudiciais para a sociedade”. Embora isto soe nobre, amoroso e prático, ia contra o princípio da sabedoria, a reverência pela Divina Majestade. E sem esta sabedoria, não existiriam benefícios profundos e duradouros feitos ao homem, no âmbito espiritual e político. Como bem notou Jonathan Aitken, biógrafo de John Newton, a força motora primária por trás da perseverança legislativa de Wilberforce não era, como fazia a maioria dos políticos antes e durante a sua época, aprovar leis que trariam benefícios para sociedade, mas, sim, aprovar leis que erradicariam atividades da sociedade que eram ofensivas a Deus.

Wilberforce não batalhou sozinho. Deus arregimentou homens, que se tornaram amigos, e que o acompanharam em várias causas, um grupo de pessoas que ficou conhecido por “Os Santos”. Com esse apoio, e movido por uma profunda obediência bíblica, William lutou em várias causas ultrajantes a Deus, além da abolição do tráfico de escravos e da própria escravidão: trabalhou para aliviar as duras condições do trabalho infantil, pela reforma agrícola, para que se repassasse aos pobres comida com preço mais acessível, pela reforma das prisões, pela restrição ao mau uso da pena de morte e pela prevenção da crueldade com animais.

Três dias depois do fim da escravidão na Inglaterra, William Wilberforce morreu, um dos gigantes da fé foi para o descanso eterno dos santos, e a sua biografia tornou-se um excelente exemplo para desfazer um comum e grave equívoco: a incompatibilidade entre fé cristã e vida pública.

Obs.: Este texto se baseou nas informações contidas na breve biografia de John Piper, “Maravilhosa Graça na vida de William Wilberforce”
 
 
comentários Postar um comentário