O ANTI-INTELECTUALISMO
Enquanto existem pessoas comprometendo o Evangelho com o cientificismo, há outro extremo adotado por grupos de missões estudantis. Diametralmente oposto ao «racionalismo cientificista» está o anti-intelectualismo.
Não se questiona a intenção de tais missionários/evangelistas. Muitos são sinceros em sua abordagem, outros apenas assimilaram algumas premissas pós-modernas, e assim a síntese entre perspectivas antibíblicas e o evangelho é realizada – com prejuízo para o cristianismo.
John Stott[16] fala de cristãos que possuem «zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento». Segundo sua análise[17],
o espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os pragmatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: 'é verdade?' mas sim: 'será que funciona?'. Os jovens têm a tendência de ser ativistas, dedicados na defesa de uma causa, todavia nem sempre verificam com cuidado se sua causa é um fim digno de sua dedicação, ou se o modo como procedem é o melhor meio para alcançá-lo.
Com o pragmatismo, Stott[18] denuncia também a tendência anti-intelectual de alguns grupos pentecostais, que colocam a experiência acima da revelação. Muitos jovens em movimentos estudantis participam de igrejas com tal perspectiva, e assim, no desejo evangelístico, rejeitam o conhecimento na alegação de «revelações» e outras experiências mágicas.
Outro John, agora o MacArthur[19] demonstra como o pós-modernismo também influencia a mentalidade contemporânea. A idéia de contradição parece ser rejeitada pela perspectiva do pós-modernismo.
As pessoas da atualidade são ensinadas a glorificar a contradição, a abraçar o que é absurdo, a preferir o que é sujetivo e a permitir que os sentimentos (em vez do intelecto) determinem o que eles crêem. Elas são ensinadas a não rejeitar idéias apenas porque contradizem o que nós aceitamos ser verdadeiro. E elas são até mesmo encorajadas a abraçar conceitos contraditórios e mostrar-lhes o mesmo respeito como se fossem verdadeiros. Tal irracionalidade não nada menos do que rejeitar o conceito da verdade.
Sua argumentação também envolve algo da teologia contemporânea, ou da Nova Teologia, como a chamava Francis Schaeffer[20]. A confusão sobre a «racionalidade da verdade» tem apoio na neo-ortodoxia, para MacArthur[21]:
Os teólogos neo-ortodoxos insistiam que o Cristianismo é um sistema de crença irracional – uma religião do 'paradoxo'. O que eles estavam realmente dizendo é que o Cristianismo é cheio de contradições.Paradoxo é uma designação errônea no sentido em que eles o usavam. [...] quando os neo-ortodoxos usam o termo paradoxo eles estão falando de uma contradição real. Eles consideram toda verdade como irracional, contraditória e absurda à mente lógica. No sistema deles, fé implica no abandono da lógica. É um pulo cego no abismo do irracionalismo. Eles emprestaram seu irracionalismo da filosofia existencial e fizeram dele uma marca registrada de sua teologia. Ao fazer isto, eles lançaram fundamentos para uma versão pós-moderna do Cristianismo.
A teologia existencialista ganha espaço entre os jovens cristãos, que flertam com aspectos da teologia Barthiana, com Paul Tillich, e agora com conceitos da Igreja Emergente, representados por Brian Mclaren e Rob Bell.
Somos, assim, forçados a concordar com Harry Blamires[22], que afirmou categoricamente: «Não existe mais uma mente cristã». Sem tal racionalidade, somos deixados à mercê de iniciativas ingênuas e infrutíferas, pois, ou não comunicam ao jovem universitário por rejeitarem a abordagem racional, ou são inúteis por se renderem diante da mentalidade relativista, destruindo a perspectiva do Evangelho como verdade, e tornando-o apenas mais uma opção no mercado da espiritualidade.[23]
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[16] STOTT, John. Crer é também pensar. 2.ed. São Paulo: ABU editora, 2001. p.7
[18] Ibid., p. 9.
[19] MACARTHUR JR., John. Princípios para uma cosmovisão bíblica: uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
[20] SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
[21] MACARTHUR JR., John. Op. Cit., p. 43.
[22] BLAMIRES, Harry. A mente cristã: como um cristão deve pensar?. São Paulo: Shedd Publicações, 2006.
[23] Para mais leituras sobre o assunto, cf. MACGRATH, Alister. Apologética Cristã no século XXI. São Paulo: Vida, 2008.; MACARTHUR, John. The Truth War: fighting for certainity in an age of deception. Nashville: Thomas Nelson, 2007. (há uma tradução desta obra para o português, pela editora Fiel); NASH, Ronald. Questões últimas da vida: uma introdução à filosofia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. Para um diagnóstico do declínio intelectual dos nossos tempos, cf. BLOOM, Alan. O declínio da cultura ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade. São Paulo: Best Seller, 1989.
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