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Reforma e cosmovisão (3)

segunda-feira, 13 de julho de 2009 comentários
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por Allen Porto

Através da Bíblia, a vida em sua totalidade é pensada e ajustada aos desígnios de Deus, conforme o pensamento reformado. Os Registros do Cristianismo funcionam não como um livro de religião pura e simplesmente, mas como base para a existência. Tal realidade pode ser compreendida por meio da máxima reformada “Sola Scriptura”. Conforme tal lema, o documento bíblico tem autoridade máxima sobre a vida do cristão – é sua regra de fé e prática, a lei máxima sobre a qual devem operar os seus pensamentos e condutas nos mais variados aspectos de sua rotina. Conforme Costa (2000, p.17), “a partir da Palavra [os reformadores] passaram a pensar acerca de Deus, do homem e do mundo!”. Esta também é a compreensão de McGrath (2007, p.149), ao declarar a abrangência do princípio Sola Scriptura no contexto pré-Reforma e da Reforma.
(...) As Escrituras são tratadas como uma fonte divinamente concedida da Lei, dos princípios morais e dos preceitos para ordenar o comportamento humano (...). Em vários aspectos, os primeiros proponentes radicais do princípio da Sola Scriptura (como Wycliffe e Huss) podem ser vistos como homens que estenderam a abrangência das Escrituras de modo a abarcar a disciplina, bem como a doutrina, questionando, assim, os métodos dos decretalistas e dos juristas canônicos.

O Sola Scriptura se equipara ao princípio do Livre Exame defendido por Lutero. A idéia básica deste pensamento indica a necessidade de cada indivíduo ter contato direto com a Escritura e a partir deste ato particular formar suas convicções a respeito do mundo. Contrário à mentalidade católica medieval, o monge agostiniano preconizava a importância da Bíblia no idioma do povo e acessível a ele. De fato, a convicção da necessidade de contato individual com este Registro Cristão incentivou, em grande medida, a alfabetização e a reforma do sistema educacional promovida por Lutero na Alemanha e Knox na Escócia. Para que o povo pudesse ter intimidade com o Antigo e o Novo Testamento, era fundamental que soubesse ler. Assim foi determinada mais uma das ênfases da Reforma – a educação.
Há nestes relatos a conexão entre o valor atribuído à Bíblia e o impacto da Reforma nas diversas esferas do universo pós-medieval. Considerar o texto bíblico autoritativo sobre todos os elementos da vida humana insere o indivíduo em um contexto de integralidade, no qual as categorias “sacro” e “profano” são, se não por completo abandonadas, pelo menos redefinidas para que cada fragmento existencial seja envolvido sob o manto unificador da cosmovisão cristã.
Pensar em termos da weltanschaunng bíblica – embora a expressão seja posterior à Reforma – possibilita a compreensão da pluralidade do movimento protagonizado por Zuínglio e os demais pensadores do novel protestantismo. O termo “cosmovisão” (weltanschaunng, worldview) – cunhado por Kant, conforme Souza (2006, p.41) – encaixa-se perfeitamente na noção desenvolvida pelos reformadores, especialmente da ala calvinista. Na esteira de tal tradição surgiu, no fim do século XIX o pensamento depois categorizado como neocalvinismo holandês ou filosofia reformacional, buscando enfatizar a integralidade de uma visão cristã de mundo.
Muitos são os estudos a destacarem o papel da Reforma como influenciadora das artes, incentivadora das ciências, transformadora das relações sociais e trabalhistas, bem como questionadora nos aspectos políticos e jurídicos.
Nomes como Johan Sebastian Bach – o músico , Blaise Pascal – o cientista, Rembrandt – O pintor, William Wilberforce – o estadista e parlamentar inglês, Comenius – o pedagogo, trazem a marca do pensamento da Reforma, que influenciou a sua postura e forma de atuação frente aos desafios de seu tempo.

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Obras citadas (na ordem de referência):

COSTA, Hermisten Maia P. Da. A Reforma Protestante. In: LEMBO, Cláudio. O pensamento de João Calvino. São Paulo: Editora Mackenzie, 2000.

MCGRATH, Alister. Origens intelectuais da Reforma. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.

SOUZA, Rodolfo Amorim Carlos De.Cosmovisão: Evolução do conceito e aplicação cristã. In: CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro de; et. al. Cosmovisão Cristã e Transformação Social. Viçosa: Ultimato, 2006.


 
 
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